Metal Slug: Super Vehicle-001

Review: Bored_Cyrus | Data: 02/05/2009 | Última Revisão: 02/08/2011

Ficha
Plataforma Adaptações/Outras versões Data de Lançamento
Arcade Neo Geo, Neo Geo CD, PlayStation, PlayStation 2 (Metal Slug Anthology / SNK Arcade Classics Vol. 1), PSP (Metal Slug Anthology / SNK Arcade Classics Vol. 1), Sega Saturn, Wii (Metal Slug Anthology / SNK Arcade Classics Vol. 1 / Virtual Console) 19/04/1996 (Japão)
18/04/1996 (Estados Unidos)
Desenvolvimento Publicação Classificação
Nazca SNK Visão Lateral / Rolagem Horizontal
Multiplayer: Até 2 jogadores em modo cooperativo.
Review

Somos todos humanos. Todos nós passamos por momentos de tristeza, alegria, fome, crise existencial, vontade de esvaziar a bexiga, ânsia de vômito e, claro… raiva. Fúria. Ira. Por que não? Quem nunca foi tomado por um ímpeto infernal de descarregar o pente de uma submetralhadora em algum desafeto, seja o infeliz em questão um chefe de escritório que insiste em procurar defeito no que você faz, aquele bully no colégio que vinha sempre roubar seu lanche, aqueles infelizes que jogaram óleo de fritura nas suas costas quando você entrou na universidade, aquele animal que te deu uma fechada no trânsito, aquele vírus influenza mutante que te infectou… Enfim, qualquer uma dessas criaturas que fariam um favor à humanidade deixando de existir. OK, talvez seja exagero chamar toda a humanidade de assassina em potencial, mas vamos apenas fingir que eu não estou tentando escrever uma introdução engraçadinha ao invés de começar o review de uma vez.

O que interessa é que Metal Slug é, sem exagero, uma das melhores válvulas de escape para a raiva que a indústria dos games já produziu. Não deve nada para Postal, Carmaggedon e esses outros games misantrópicos por aí. Se eu quisesse morrer de fome, me formaria em psicologia e usaria este game como método de terapia. Porque não existe nada melhor do que iniciar uma partida de Metal Slug e me ver sendo jogado contra quantidades brutais de homenzinhos de pixel, pulverizando exércitos inteiros com metralhadoras, lança mísseis, granadas e todo tipo de parafernalha bélica que os autores do jogo trataram de enfiar aos montes no jogo — e vendo toneladas de estilhaços voando para todos os lados no processo. Uma das qualidades mais básicas de todo bom Arcade: uma idéia simples e a facilidade de pegar o game a qualquer momento e jogar pelo puro prazer de jogar, sem compromisso nem enredos rocambolescos. Contudo, verdade seja dita: nada disso transformaria o game num clássico se Metal Slug não tivesse um dos trabalhos gráficos mais bonitos da era 2D, com sprites e cenários tão ricos e detalhados que se tornam um atrativo a parte. Estudo obrigatório para qualquer artista gráfico que pretenda desenhar bons sprites.

Pode-se dizer que Metal Slug é um bom exemplo de série de Arcade que conseguiu sobreviver aos anos 90… sem ser um game de porrada. Já em sua enésima edição, com inúmeras adaptações e “spin-offs” no currículo, a série foi concebida pela Nazca, cuja equipe já havia trabalhado com a Irem (de R-Type). Já tinha lançado por ela, aliás, games que guardam bastante semelhança gráfica com o que viria a ser Metal Slug. A Nazca acabou por ser incorporada à lendária SNK, tornando Metal Slug uma das principais franquias da era Neo Geo. Como nada dura para sempre, eventualmente a SNK acabaria pedindo as contas e passando domínio de suas séries a outros desenvolvedores, embora ainda exista (pelo menos em nome) por meio da SNK Playmore. Não é à toa, infelizmente, que depois de Metal Slug 3 a coisa não foi mais a mesma: a fórmula se esgotou um bocado e os desenvolvedores parecem ter se esquecido da arte de fazer fases realmente divertidas de se jogar. De qualquer maneira, a essência se manteve: gostar de um Metal Slug, portanto, é acabar gostando do resto.

O sistema de jogo de Metal Slug não era algo exatamente novo: o que a Nazca fez é, grosso modo, pegar o que a Konami havia inventando com o clássico Contra e jogar alguns ingredientes a mais na sopa mágica. Entenda como: veículos especiais, armas especiais com limites de munição e uma variedade enorme de itens, além de elementos como rotas alternativas que podem ser seguidas e reféns que podem ser resgatados em troca de recompensas. A essência deste sub-gênero de shoot-em-up, conhecido como Run & Gun, é manjada, claro: você segue sempre para a direita dando cabo de uma quantidade infindável de soldados. A jogabilidade é simples e eficiente: além do pulo e do tiro, você pode lançar granadas, que são limitadas. Sua arma principal é de munição ilimitada, mas fraca. Você acabará alternando para armas mais fortes (e limitada) por meio da coleta de determinados power-ups. Outro elemento notável de Metal Slug é a possibilidade de pilotar veículos. Ocasionalmente, você encontrará tanques de guerra (os tais Super Vehicle-001 do título) e poderá entrar neles para criar um estrago de proporções bíblicas. O problema do tanque é que basta levar três tiros para virar pó, e o game não faz diferenciação entre um reles tiro de soldadinho para uma bala de canhão de um tanque inimigo.

Bem, desde Rambo já se sabia que algumas metralhadoras na mão de um sujeito mais bruto (e menos inteligente) são capazes de fazer um senhor estrago. Deve ser por isso que seu inimigo empregou toda a Força Armada do país para dar cabo de você: você será atacado por soldados armados com granadas, soldados armados com faquinhas de cozinha, soldados armados com rifles, soldados com bazucas, soldados camicases, soldados dentro de tanques de guerra… é tanta gente que, ao final do jogo, você pensa se não deveriam criar um programa de incentivo à natalidade ou coisa assim, a fim de repor a população masculina drasticamente reduzida pelo impulso genocida de seus personagens. Algumas pessoas até podem achar esse tipo de game violento, mas não deixa de ser cômico detonar seus adversário e ver o sangue (substituído por água nas versões ocidentais, frescura de censor) esguichando dos corpos de seus adversários como se você tivesse golpeado um hidrante a machadadas. Caso você seja um religioso conservador e fundamentalista, queira por gentileza desconsiderar essa última frase.

Metal Slug: Super Vehicle-001 tem a duração de seis fases. Quanto a elas, não há muito o que se dizer, apenas que foram planejadas de modo excelente: o jogo pode ser brutal no que diz respeito à quantidade de inimigos que joga ao mesmo tempo contra você, mas tudo é muito equilibrado. Acredite. Pelo menos nesse primeiro Metal Slug, você nunca sente que o desafio do game é algo covarde, apesar de, ainda assim, ser um game desafiador. Ao contrário de outros shooters do estilo, e isso inclui Contra, a dificuldade do game consiste em simplesmente lidar com os tiros inimigos — exceto contra tanques, que são capazes de te atropelar. Dizer isso parece redundância, mas o fato é: o que mais irrita em certos shoot-em-ups, embora faça parte do desafio, é morrer simplesmente porque você encostou no inimigo. Em Metal Slug o contato com outros humanos não é o suficiente para te mandar para o andar de baixo. Além disso, numa sacada brilhante dos caras da Nazca, seu personagem automaticamente ataca com uma facada se você pressionar o botão de tiro próximo a um inimigo humano — e estamos falando de uma senhora facada, capaz de dar cabo de vários inimigos de uma vez se estiverem agrupados.

Imagine uma sala cheia de pessoas com barbas a fazer, viciadas em café e workaholics ao ponto de não se importarem de trabalhar algumas horas depois do expediente para cumprir o prazo de entrega. Pois deve ser mais ou menos essa a aparência dos artistas que trabalharam em Metal Slug, a julgar pela quantidade de detalhes que fica evidente em cada santa tela do game. Cada pedaço de cenário ou sprite que compõe a parte visual do game evidencia uma obsessão quase que absurda por minúcias. Veículos e personagens executam movimentos com extrema fluidez. Claro que todo o detalhismo torna a experiência de jogar bem mais agradável: quando você destrói construções, por exemplo, elas não desaparecem simplesmente, mas se desintegram em centenas de estilhaços que voam para todos os lados. Apesar da história oficial situar Metal Slug em um futuro fictício, a ambientação do game lembra bastante o cenário das Grandes Guerras do século XX (aliás, o símbolo do exército inimigo faz uma paródia às cores da bandeira nazista). E é impressionante que, a despeito da carnificina desenfreada, o game consiga manter um clima de bom humor. Os sprites estilizados com contornos pretos e as expressões caricatas dos personagens reforçam bastante essa atmosfera.

Sim, Metal Slug é um ótimo passatempo solitário, mas a verdadeira graça do jogo só dá as caras quando você divide os controles com outra alma. Em outras palavras, o game é um excelente multiplayer cooperativo, capaz de render boas risadas e mais ou menos meia hora de palavrões e sentenças do tipo “pára de roubar meus power-ups quando eu morro, *orra”. Se você nunca jogou Metal Slug — infernos, em que planeta você vive? —, permita-me ser imperativo e dizer uma frase que normalmente detesto: não perca seu tempo e jogue agora! Se você não suporta mais seu chefe, pelo menos existe esse modo de extravasar todo seu rancor e manter seu emprego em tempos de crise. Depois, não precisa agradecer.

Avaliação
Estrela CheiaEstrela CheiaEstrela CheiaEstrela CheiaEstrela Cheia
Screenshots

Curiosidades
“Lesma de metal”

…seria a tradução literal para o título do game. Soa estranho? Definitivamente, sim, mas há uma explicação: o designer do jogo havia pensado em um veículo de combate que pudesse se rastejar no solo como uma lesma, mais ou menos como um caramujo sem o casco de proteção. Não faz muito sentido, mas acabou reforçando o clima cômico da série.

Reféns

Uma das principais dificuldades do game é resgatar os reféns (representados por velhinhos de longos cabelos louros) e mantê-los até o final da fase. Como você perde todos os reféns ao morrer, é um desafio e tanto, mas que rende bastante pontuação extra. Alguns nomes dados aos reféns são um tanto quanto curiosos: um dos vários que existem pelas fases, por exemplo, tem como sobrenome Descartes, em uma clara referência ao filósofo e matemático francês que viveu nos séculos XVI e XVII.

Heil, Morden!

O game parece ser uma paródia das guerras do século XX, em geral. Os veículos, por exemplo, têm estampados em suas fuselagens um símbolo deliberadamente parecido com a suástica nazista. O general Morden, personagem recorrente na série e general do exército inimigo, tem uma semelhança física notável com o falecido (e infame) ditador Saddam Hussein.

Este artigo foi postado em Reviews, Reviews: Arcade e marcado como , , , , . Adicione o permalink a seus favoritos.

3 comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *