Touhou Koumakyou: The Embodiment of Scarlet Devil

Review: Bored_Cyrus | Data: 17/12/2009 | Última Revisão: 10/08/2011

Ficha
Plataforma Data de Lançamento
PC 2002
Desenvolvimento Classificação
Team Shanghai Alice Visão Superior / Rolagem Vertical
Multiplayer: Não.
Review


Isso você sabe bem: a Internet deixou as coisas muito mais fáceis para nerds de todos os credos e gostos. Ao invés de ficar plantado na locadora de videogames do seu bairro (isso ainda existe?!) ou realizar peregrinações semanais a sebos – só para citar exemplos -, basta você se abundar na frente do seu micro e sentir um mundo de opções de entretenimento à sua disposição. A hora que você quiser, como você quiser, o que quiser. Lógico que isso é uma análise superficial, mas não dá pra negar que uma das coisas mais bacanas é ter acesso a coisas que, de outra forma e em outra época, você dificilmente teria.

E justamente é aí que entra o assunto desse review. Nem estaríamos falando dele não fosse a Internet. Aliás, não estaríamos mesmo, pois esse é um site de Internet… Enfim, não se trata de um game de Arcade fabricado por nenhuma Konami, não se trata de uma produção de gordo orçamento para o Dreamcast ou Sega Saturn. Touhou é uma pérola da chamada cultura “doujin“, um movimento no Japão cuja filosofia é basicamente a mesma do rock de três acordes que o pentelho do teu sobrinho faz na garagem: crie você mesmo, distribua e divulgue por seus próprios meios e mantenha um forte senso de comunidade e cooperação com aqueles que pensam e atuam como você. As produções são as mais diversas possíveis: de mangás e discos de músicas à videogames. Entretanto, contratastando movimentos “faça-você-mesmo” mais radicais, como algumas vertentes do Punk Rock, os criadores independentes japoneses, de modo geral, não se vêem como membros de espécie alguma de contra-cultura: muitas vezes, se apropriam de produções “comerciais” como matéria-prima básica para suas criações. Isso equivale a, por exemplo, usar personagens de um mangá famoso e colocá-los em histórias próprias, por vezes com teor erótico e/ou exagerado. Da mesma forma, muitos dos artistas de mangá de prestígio começaram suas carreiras assinando doujins – alguns continuam fazendo e distribuindo os seus nas horas vagas.

Touhou é interessante não somente por ser uma excelente série de shoot-em-ups, mas porque conseguiu gerar, sendo ele próprio um trabalho doujin por natureza, um fiel e prolífico culto de outros artistas dispostos a produzir material baseado nele. Gente fazendo obras doujin sobre um doujin, se preferir. Suas músicas são reinterpretadas por grupos dos mais variados estilos. O vasto elenco de personagens e cenários introduzidos após inúmeras edições viram motivo para reinterpretações na forma de mangás amadores, animações e até mesmo “memes” estúpidos na Internet. É realmente uma produção tão vasta e variada que, todo ano, uma convenção é dedicada só para distribui-las. Outro aspecto interessante é que se trata de um empreendimento encabeçado por um homem só, conhecido pela alcunha de ZUN. Ele programa, cria a arte, compõe as músicas, enfim, confecciona todo o game sozinho. Difícil não admirar um esforço desses.

OK, três parágrafos de introdução é um falatório razoável… Touhou: The Embodiment of Scarlet Devil não é o primeiro game da série, mas é o mais acessível a nós, ocidentais, por ser o primeiro a funcionar em um Windows: os games anteriores (a série existe desde 1995) foram todos programados para o PC-98, um modelo de computador pessoal bastante popular no Japão até o começo da década de 90. De qualquer maneira, Scarlet Devil marca o início da série Touhou como a conhecemos: milhões de tiros formando padrões impressionistas na tela, a temática fortemente baseada na cultura tradicional do Japão e garotinhas em idade escolar brincando de lançar bolinhas de fogo, raios laser e faquinhas Ginsu umas nas outras. Deve ser como se fala “bom dia” em Gensokyo, um local fictício do Japão que serve de pano de fundo para os games Touhou.

O jogo é separado em quatro níveis de dificuldade (o último se chama “Lunático”…), sendo que no modo mais fácil a sexta e última fase não está disponível. São duas personagens: Marisa e Reimu, que diferem em alguns aspectos como velocidade e padrão dos tiros. Há três botões de controle: um para o tiro principal, outro para a “bomba” (que também automaticamente coleta todos os itens na tela) e outro que diminui sensivelmente a velocidade da sua personagem. Para aumentar o poder do tiro principal, você precisa coletar pequenos itens vermelhos, que aumentam o seu Power Level, indicado no canto direito da tela. Esse nível de poder vai se enchendo gradualmente conforme a quantidade de itens coletados, chegando ao máximo de 128 eventualmente. Chegando a esse máximo, você poderá coletar todos os itens da tela automaticamente, uma jogada necessária se você quiser fazer pontuações altas: basta subir até um determinado nível na tela (conhecido como “Point of Collection“) e eles voarão até você.

Afinal, qual é a tal da “mágica” deste game? Bem… chamamos Touhou de “shoot-em-up” por convenção. A atração principal, e na verdade 90% da beleza e arte do game, não é atirar e destruir, mas simplesmente desviar dos tiros, que vem nos mais diferentes arranjos possíveis conforme os níveis de dificuldade. “Desviar de tiros” pode até ser uma explicação simplista no caso de Touhou. O game é frequentemente citado como um exemplo de shoot-em-up do sub-gênero Danmaku, ou “cortina de fogo”, pela abundância de tiros lentos que cobrem toda a extensão da tela, obrigando o jogador a mover-se cuidadosamente por entre os espaços seguros (obviamente escassos). Além disso, o ponto vulnerável do seu personagem (ou “hitbox“) é, na verdade, bem menor que seu sprite em si, o que permite que você tenha alguma chance de sobrevivência mesmo nas mais densas barragens de tiros. Pressionar o botão para deixar seu personagem mais lento, um movimento essencial nesses momentos, também deixa à mostra o seu hitbox.

O aspecto mais curioso de TouhouTouhou atravessar o estágio inteiro e destruir somente umas meras 20 fadinhas pelo caminho (que sozinhas são capazes de despejar mais chumbo no cenário do que dois meses de Guerra do Iraque). Você é compensado cada vez que passa perigosamente perto de algum tiro, somando pontos a um bônus chamado Graze. A habilidade de acumular o maior número possível de pontos Graze é decisiva para jogadores avançados que queiram jogar competitivamente.

Fica evidente que ZUN é, acima de tudo, um designer de games habilidoso, conseguindo criar situações de dificuldade sem nunca deixar de pensar também em uma saída. Enfrentar os chefes e toda sua gama de “ataques especiais” (este deve ser o único shooter que dá nome pros tiros dos chefes, tipo jogo de luta) é um exercício muito mais divertido do que o de costume para games do gênero: dependendo da sua boa vontade e gosto pelo desafio, é intrigante pensar em maneiras de desviar de alguns dos ataques dos chefes. Apesar do nível elevado de dificuldade, Touhou tem algumas particularidaridades que, com alguma boa vontade, se traduzem como “generosidade”. Caso você seja acertado por um tiro, você tem um curto período de tempo (conhecido como “barreira entre vida e morte”) para lançar uma bomba e cancelar o ataque. Isso é especialmente útil no modo secreto Extra, uma fase especial muito difícil que jogadores não-hardcore fazem bem em deixar para depois…

Como se trata de uma produção independente e, além de tudo, solitária, o game obviamente não brilha pelos gráficos. Mesmo porque ZUN não é exatamente um excelente artista figurativo. Entretanto, mesmo nesse aspecto o game consegue prender sua atenção, misturando sprites 2D com cenários modelados em três dimensões – bem simples, diga-se de passagem. Bonitos são mesmos os padrões que os tiros formam nas dificuldades mais elevadas, se bem que você dificilmente vai ter oportunidade para ficar reparando nisso se estiver jogando em tais dificuldades…

É difícil citar Touhou sem falar de suas músicas: mesmo para aqueles que não são realmente aficcionados em shoot-em-ups “maníacos”, as composições de ZUN constituem uma atração por si só. Em Scarlet Devil, as composições soam como música popular japonesa um pouco mais antiga e tradicional (não essas que você ve em abertura de Anime hoje em dia). É nos games seguintes, entretanto, que ZUN realmente conseguiu um resultado excelente, misturando suas influências mais orientais com Rock e até mesmo Jazz. Se você curte, vale muito a pena conferir o trabalho de grupos doujin que criam versões para as músicas da série, como Demetori (Heavy Metal) e AZURESANDS (Jazz).

Enfim, dito tudo isso, é bom deixar claro que The Embodiment of Scarlet Devil talvez seja um game um pouco “ultrapassado”. Não, espera, você realmente está lendo isso em um site chamado RetroShooting. Acontece que os games seguintes, dos quais cito Perfect Cherry Blossom e Imperishable Night estão quilômetros a frente, em todos os aspectos. São os dois momentos mais inspirados dessa misteriosa figura chamada ZUN. Mesmo assim, seu trabalho em Scarlet Devil merece ser conferido. E não se preocupe com a barreira da linguagem: mesmo sendo um game japonês, o cara foi gentil o suficiente para traduzir os menus principais para o inglês, mesmo que os diálogos entre os personagens tenham ficado na língua original. Vamos até tentar esquecer o Engrish macarrônico da tela inicial…

Avaliação
Estrela CheiaEstrela CheiaEstrela CheiaEstrela CheiaMeia Estrela
Screenshots

( Screenshots retiradas do site oficial. Digamos que está além das minhas capacidades humanas ficar vivo até conseguir capturar umas imagens decentes. )

História/Personagens

Durante um pacífico verão em Gensokyo, uma névoa escarlate aparece sem aviso e cobre a maior parte da terra, bloqueando boa parte do sol e fazendo com que as áreas afetadas fiquem escuras e frias. Reimu Hakurei, uma miko (uma espécie de sacerdotisa da religião xintoísta) a serviço do Santuário Hakurei, sente que é seu dever encontrar a causa dessa anormalidade. Marisa Kirisame, uma bruxa, espera que a pessoa responsável pelo feitiço tenha alguns itens interessantes que ela possa roubar. Fica a seu cargo escolher quem deve investigar…

Reimu Hakurei
Sacerdotisa, participa de quase todos os games Touhou. É frequentemente quem investiga ocorrências estranhas em Gensokyo. Como personagem controlável, Reimu atinge uma área maior com seus ataques, embora sejam mais fracos. Reimu Hakurei
Marisa Kirisame
Uma bruxa estrangeira passando uma temporada na terra do sol nascente. Bastante auto-confiante, gosta de confrontar e se enfiar situações de perigo. Como personagem controlável, atinge uma área pequena com seus ataques, mas ela compensa esse defeito com sua força e velocidade. Marisa Kirisame
Rumia (Chefe do Estágio 1)
Youkai (espécie de ser sobrenatural do folclore japonês, fantasma ou demônio) que pode manipular escuridão, embora não seja muito poderosa. Se alimenta de humanos. “É dever do Youkai atacar humanos”. Rumia
Cirno (Chefe do Estágio 2)
É uma fada capaz de manipular gelo. Apesar de ser razoavelmente fraca, as fadas em Touhou normalmente morrem com um tiro, então essa é uma relativamente bem forte… Sua personalidade é infantil e estúpida. Cirno
Hong Meiling (Chefe do Estágio 3)
Também uma Youkai, vigia a entrada da Mansão do Demônio Escarlate (!?). Conhecida por seu domínio de artes marciais. Sua origem é chinesa. Hong Meiling
Patchouli Knowledge (Chefe do Estágio 4)
“Knowledge” significa “conhecimento” em inglês. Naturalmente, ela é bastante inteligente e guarda a livraria da Mansão. Ela passa a maior parte do seu tempo lendo e escrevendo livros mágicas. Maga poderosa, é também anêmica, o que a impede de recitar seus feitiços algumas vezes. Patchouli Knowledge
Sakuya Izayoi (Chefe do Estágio 5)
Servente da Mansão, é também, aparentemente, a única humana a trabalhar na mansão. Ela tem o poder de parar o tempo, que ela combina com sua habilidade de lançar facas (!!). Manipulação temporal é também um recurso que usa para fazer vários serviços domésticos em um curto período de tempo. Sakuya Izayoi
Remilia Scarlet (Chefe do Estágio 6)
Dona da Mansão. Apesar da aparência infantil, seus assombrosos poderes mágicos lhe mereceram o título de “Demônio Escarlarte”. É uma vampira e, como tal, sensível à luz, por isso prefere ficar trancada em sua mansão. Decidiu cobrir Gensokyo com uma névoa para que pudesse bloquear os raios solares e poder andar livremente de dia. Remilia Scarlet
Flandre Scarlet (Chefe do Estágio Extra)
Irmã mais nova de Remilia. Por causa de sua personalidade volátil e do seu imenso poder destrutivo, ficou trancada no porão por cinco séculos. Pouco sabe do mundo lá fora e mal teve contato com humanos. Apesar de tudo, raramente tenta escapar. Flandre Scarlet
Links

Tradução dos Diálogos (Em inglês)
Transcrição dos diálogos do game em inglês. Página do portal de Touhou no wikia.com. Link visualizado em 15/12/2009

Patch de Tradução (Em inglês)
Download de um Patch não-oficial de tradução do game. Página do portal de Touhou no wikia.com. Link visualizado em 15/12/2009

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